Sempre que se aproximam as celebrações de fim de ano, me vêm à mente esse refrão tão conhecido do grande Alceu Valença, um dos ícones de nossa música popular brasileira: “Tu vens, tu vens! Eu já escuto os teus sinais.” De fato, sempre que iniciamos o tempo do Advento ingressamos num momento oportuno para meditarmos sobre a imensa misericórdia e amor de Deus para conosco, sentimentos estes que O levaram a despojar Jesus de sua glória e majestade enviando-o a nós como homem, para que por Ele, o “homem perfeito” pudéssemos recobrar o direito à eternidade. Escutar os “sinais” do tempo presente é uma necessidade da Igreja de hoje. Entender o modo como anunciar Cristo às novas gerações é missão primordial nos nossos dias, se quisermos que a mensagem de amor e esperança que o Senhor Jesus nos anunciou, continue ecoando nos corações dos homens e mulheres da pós modernidade. Um dos grandes sinais a serem ouvidos é o do indiferentismo religioso. A cada dia que passa cresce a indiferença em relação não a Deus, mas à Igreja de Deus. As pessoas hodiernas querem Deus, todavia não desejam a Igreja. Como mostrar ao mundo a beleza das coisas celestes, reveladas por Deus através de Cristo e contidas no seio de Sua bela Esposa? Como levar os milhões de batizados desse imenso país a um contato mais próximo e frequente com nossas paróquias? Como fazer brotar no coração dos filhos da Igreja, o desejo de formarem com Ela uma comunidade de amor e solidariedade fraterna, capaz de moldar o mundo em que vivemos? A resposta é clara e evidente: com uma catequese que comprometa os cristãos! Uma catequese que forme discípulos e não apenas informe os batizados sobre as maravilhas que Deus pode operar num coração e alma que se abrem ao Seu amor. É preciso leva-los a experimentar o Cristo dos Evangelhos em seu dia a dia. Participando da IV Semana Nacional de Catequese, que teve lugar no Mosteiro de Itaicí em Indaiatuba, interior de São Paulo, pude constatar através das maravilhosas conferências e oficinas das quais participei, que urge abraçarmos o modelo de catequese de iniciação à vida cristã, de inspiração catecumenal que a Igreja no Brasil e no mundo nos chama a realizar. Não podemos mais achar que do modo como temos feito acontecer a transmissão da Boa Nova de Jesus, conseguiremos sustentar nosso trabalho pastoral por mais duas décadas. Ou deixamos de lado a catequese sacramentalista e adotamos “com dificuldades” o novo modelo que a Igreja nos propõe, ou então não nos restarão muitas pessoas que nos queiram escutar. Estando ali em Itaicí, pude perceber que todos os rincões desse Brasil e do mundo estão atentos aos sinais que Deus concede à Sua Igreja. Todos estão dando passos trôpegos para a compreensão e implantação desse novo modo de fazer catequese, mas, apesar das dificuldades enfrentadas, todos estão perseverando nos certames que os desafios do mundo atual nos propõem. Não há um modelo único de catequese iniciática, mas o que não pode deixar de haver é o desejo de oferecer aos tempos atuais as razões de nossa fé. No domingo vinte e cinco de novembro, próximo passado, enquanto ministrava a formação aos catequistas da II Etapa de nossa Escola de Formação, falava de um dos objetivos contidos e propostos por nosso Projeto Diocesano para a Animação Bíblicocatequética, que é o de fomentar entre os nossos catequizandos, os futuros catequistas paroquiais. Ao falar disso, ao dizer que os catequistas devem surgir na própria catequese paroquial e não serem pegos de qualquer modo e trazidos para dentro dos espaços de ensino e transmissão da fé, uma catequista me disse que assim não teríamos catequistas suficientes para atender ao número de catequizandos que ainda temos. A ela dei a seguinte resposta: “Em dez anos não teremos muitos catequizandos que queiram vir às nossas catequeses, se elas continuarem a ser um espaço de doutrinação pura e não de iniciação. Vão sobrar muitos catequistas, sobretudo os que não percebem que não adianta mais nos dias de hoje, informar as pessoas sobre Jesus.” Precisamos formar discípulos que permaneçam na comunidade e isso se faz no encontro com Jesus. Este encontro transforma vidas e as compromete com o Reino. O Senhor já vem e escutamos seus sinais. Tenhamos a coragem de ouvi-los e respondermos cada um de nós ao seu apelo de irmos mundo à fora fazendo discípulos seus todos os povos da Terra. Tenhamos ainda a coragem de nos submetermos à uma profunda avaliação de nossa catequese, do modo como temos feito chegar aos corações dos que nos são confiados a mensagem transformadora e redentora de Jesus. Tenhamos ainda a ousadia de irmos ao nosso interior, acompanhados pelas luzes do Espírito Santo para nos perguntarmos se nós mesmos já conhecemos Jesus e se somos de verdade discípulos do Mestre. Que o Advento seja para nós tempo de escuta e de reflexão. Que a majestosa e inebriante noite de Natal seja como uma grande luz a invadir nosso ser, irradiando o amor de Deus sobre as trevas de nossa vida. Um feliz e abençoado Natal!
TEXTO: PADRE LUCIANO S.M. DE ALMEIDA
Assessor diocesano da Animação bíblico-catequética